Rua de São João.

« Fez a rua de S. Marcos, a qual é da Cappella maior da Sé até a porta do dito S. Marcos; comprou muitas casas acerca da Sé para fazer a dita rua e quintaes atraz d'ellas porque tudo era cerrado de casas e de quintaes e não havia ahi rua nenhuma...»  

Publicado na compilação, ARQUIVO DISTRITAL DE BRAGA – MAPA DAS RUAS DE BRAGA, Volume II.

Mapa Rua de São João
Mapa Rua de São João

A Rua de São João foi mandada abrir por Dom Diogo de Sousa (1505-1532) no início do século XVI, tendo-se esta rua mantido-se quase inalterada desde esse século até à primeira década do século XX, altura em que foram demolidos vários edifícios desta rua para criar o Largo de São João do Souto. Certamente foi uma das obras mais importântes de Dom Diogo de Sousa. Este plano urbanístico de início do século XX, actuou sobre o centro histórico de Braga, criando largos e aumentando a largura de travessas para criar muitas das ruas que atravessam o centro histórico no sentido Este-Oeste. Esta primeira década do século XX também viu ser ingloriamente destruídos o Castelo da cidade, e o Convento dos Remédios. Apesar de tudo, a Rua de São João é uma das que mais conserva a traça original dos edifícios e em que apesar do ritmo de construção desenfreado do século XVIII em Braga, conseguiu manter vários edifícios dos séculos XVI e XVII incólomes.

Começando pela vertente Norte da Rua, de orientação Oeste para Este. Surge-nos logo um edifício do século XVI bastante caricato por ter as pedras das portas e janelas a sobressair em relação ao edifício. Quase colado à Sé de Braga, este foi construído originalmente para servir de Solar da família Paiva tendo dois séculos depois sido comprado pela Câmara de Braga para servir de Casa da Roda ou dos Expostos. Esta instituição deve o seu nome curioso ao mecanismo chamado de "Roda" que permitia que os bebés fossem abandonados anonimamente sendo depositados numa caixinha do lado exterior, rodando-se de seguida essa parte do mecanismo para o interior e tocando a uma campainha o que permitia que mesmo mantendo o anonimato, as crianças pudessem ser quase de imediato recolhidas por funcionárias no interior. Devem ser muitos os bracarenses que descendem de crianças que passaram por esta Casa visto a enorme quantidade de crianças abandonadas nessa altura. 

Casa dos Paivas ou casa da Roda
Casa dos Paivas ou casa da Roda
Casa dos Paivas ou Casa da Roda
Casa dos Paivas ou Casa da Roda


De seguida vemos mais três edifícios do século XVI que se mantêm também nessa traça até ao dia de hoje e que albergam ainda hoje comércio tradicional e uma loja de comércio de estilo alternativo. Surge de seguida a Casa do Passadiço, construída também no século XVI pelo importante Deão Dom João da Guarda, descendendo na sua família até ser comprado e muito alterado pelo fidalgo galego Rodrigo Trancoso de Lira que curiosamente casou com a irmã do autor da imagem em cima. Já o último edifício de caraterísticas mais simples, foi um dos demolidos no início do século XX para abrir o Largo de São João do Souto, sendo que originalmente este estava colado ao primeiro edíficio da Rua de Janes onde hoje estão as famosas "Frigideiras do Cantinho".

Na vertente Sul com orientação Este para Oeste, todos os edifícios entre a muralha e a pequena travessa que se encontrava sensivelmente a meio da rua, foram todos demolidos para dar lugar ao já mencionado Largo de São João do Souto. Do primeiro edifício nada restou, já do segundo, o Palácio dos Coimbras, por vontade do seu proprietário na altura que representava a família Coimbra, este foi reconstruído a cerca de 50 metros de distância com traça diferente mas salvando todas as portas e janelas de precioso e trabalhado estilo manuelino. De seguida temos três edifícios que apesar de existirem tiveram a sua traça muito alterada no século XVIII, eliminando por exemplo a torre de um deles. Já o edifício seguinte, de traça setecentista bastante simples, este servia como a casa de cidade dos Morgados de Semelhe, importantes proprietários em Braga cujo morgadio remontava ao início do século XIII (caso raríssimo em Portugal). Já o último edíficio já com frontaria para a Rua de Nossa Senhora do Leite, antigamente das Oucias, de traça seiscentista, trata-se de mais um dos muitos palacetes construídos por Cónegos da Sé, sendo que a propriedade deste acabou por se unir por casamento à do edíficio contíguo dos Morgados de Semelhe no início do século XIX.

 

Fotografia Antiga da Rua

Nesta imagem, da viragem do século XIX para XX podemos ver a traça da Rua tal como é hoje em dia com uma das cabeceiras da Sé ao centro da imagem. Do lado esquerdo pode-se ver o edíficio do Palácio Pimentel (dos Morgados de Semelhe) e outro palacete que na altura pertencia à mesma família. Do lado direito pode-se ver a Casa dos Paivas ou da Roda que poderia ainda na altura ter a função de recolha dos expostos. De qualquer maneira, o importante é poder-se perceber a continuidade no aspeto da Rua que mantém, raro caso desde meados do século XVIII. Ainda, veja-se o estado do piso, em terra tal como já seria quando a rua foi aberta e se manteve até meados do século XX.

Rua de São João no Século XX
Rua de São João no Século XX

Mercado de São João

Localizado no centro Histórico da cidade de Braga, O Mercado de São João festejou no ano de 2024, 130 anos, existindo pelo menos desde 1894, mas segundo o atual proprietário, Manuel Luís Ribeiro, a quem este projeto tem muito a agradecer pelo apoio e disponibilidade. A mercearia já existia antes de 1894 mas adquiriu o nome atual apenas nesse ano. O primeiro proprietário foi o Senhor António Cardoso, até falecer em 1937.

Desde essa data passou a mercearia por vários proprietários, o Senhor Aníbal Dourado e posteriormente para o Senhor José Joaquim Macedo.

Mercado de São João
Mercado de São João

Nessa época, deu-se a  2ª Guerra Mundial, o que levou a um racionamento em Portugal de todos os géneros, tendo destaque os alimentícios, que passaram a ser obtidos por senhas. Estas eram atribuídas pela Comissão Reguladora às famílias, consoante o agregado familiar, tornando-se uma das mercearias para a qual mais senhas eram distribuídas na cidade de Braga. 

Senha de Racionamento Alimentar
Senha de Racionamento Alimentar

Com o falecimento do Sr. José Joaquim Macedo, a sua viúva deu continuidade ao negócio, criando a firma "Viúva José Joaquim Macedo", que mais tarde passou para a Sr. Maria da Conceição Araújo.

Mesmo passando por tempos difíceis, esta casa foi sobrevivendo ao longo destes anos, encontrando-se atualmente com a firma "Jacinto Vilaça & Machado, Lda".

A firma "Jacinto Vilaça & Machado, Lda", foi fundada em 1984, por Jacinto Vilaça e Manuel Machado, dois profissionais bastante conhecedores na área comercial e com muitos anos de experiência no ramo.

Apesar das sucessivas crises e com abertura de grandes superfícies comerciais, o Mercado São João conseguiu resistir, continuando a dar cartas no comércio tradicional.

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